Mesmo os sonhos mais bonitos chegam ao fim. Após 25 anos de uma linda história com o Bayern de Munique, Thomas Müller se despede do clube no qual entrou como torcedor e sai como ídolo.

Seus números são grandiosos:

  • 743 partidas disputadas
  • 247 gols
  • 220 assistências
  • 32 títulos (recordista da história do clube, podendo chegar ao 33° com a conquista da Bundesliga 2024/25)

Mesmo com essa galeria de conquistas, na minha opinião, Müller sempre foi subestimado. Talvez por seus movimentos desengonçados, seu estilo pouco plástico e suas chuteiras discretas, se comparado a craques mais midiáticos. Mas quem enxerga o futebol de forma mais profunda entende que ele não é só um jogador, mas uma ideia que pode ser definida em uma palavra: raumdeuter.

Esse termo, cunhado pelos alemães, significa algo como “intérprete de espaços”, muito usado para definir astronautas. Segundo o próprio, Müller não é meia, nem ponta, segundo atacante ou um falso 9. Ele é tudo isso e, ao mesmo tempo, nenhum deles. É um explorador de espaços dentro de campo.

Ele não dribla como Neymar, nem finaliza como Haaland, mas encontra zonas de desequilíbrio e gera vantagem como poucos no futebol.

Em campo, o que Müller faz é quase invisível aos olhos desatentos. São movimentos sutis, mas cirúrgicos:

  • Desmarcações curtas em milésimos de segundo
  • Passes inteligentes entre linhas
  • Presença constante em zonas onde o adversário se perde
  • Capacidade de trabalhar com as duas pernas, como no icônico gol de bicicleta após domínio no peito

Seus lances ilustram bem essa leitura. Müller não espera o passe, ele antecipa a jogada. Já está posicionado quando a bola chega. Isso é inteligência, é tática no seu estado mais puro.

Apesar de seus números estarem em declínio nesta temporada — com apenas 24% dos minutos jogados na Bundesliga, um gol e três assistências —, o impacto de Müller ultrapassa o campo. É um líder de vestiário, um elo com a torcida e um exemplo para os jovens. Um elenco campeão se faz também com jogadores assim.

Por isso, considero a decisão da diretoria do Bayern em não renovar seu contrato por mais um ano errada. Ainda mais ao justificar a não extensão por motivos técnicos, como afirmou o dirigente. Foi uma escolha técnica. Mas será mesmo que Müller não poderia contribuir mais? E, principalmente, ser mais um entre os poucos que podem dizer que defenderam apenas as cores de um clube em toda a carreira?

Segundo ele mesmo, havia o desejo de continuar. E, ainda que não fosse titular absoluto, sua experiência seria fundamental em momentos decisivos — como nas quartas da Champions, que o Bayern disputa atualmente.

O futuro aponta para os Estados Unidos. O Inter Miami, de Messi, Suárez e companhia, é o provável destino. Uma reunião de craques veteranos que, se tivessem jogado juntos no auge, colocariam medo em qualquer adversário.

Thomas Müller encerra sua jornada na Baviera como um dos jogadores mais importantes da história do clube e da Alemanha. Fiel à sua identidade, ao seu estilo e, o melhor, um ícone do futebol bem jogado sem vaidade.